28 de abr. de 2011

Coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco

Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais
ou no Viterbo -
A fim de consertar a minha ignorãça,
mas só acrescenta.
Despesas para minha erudição tiro nos almanaques:
- Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
- Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
- Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
- Coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco.
Etc.
Etc.
Etc.
Maior que o infinito é a encomenda.
(O LIVRO DAS IGNORÃÇAS|1ª parte: Uma didática da invenção)
MANOEL DE BARROS

Nenhum comentário:

Postar um comentário